O marxismo e suas variações constituem as principais
ferramentas conceituais que os alunos brasileiros aprendem nas escolas de todo
o país. O domínio cultural é tão expressivo que mesmo os professores não
identificados com essa corrente ideológica - e até aqueles que lhe são
contrários - acabam, sem perceber, utilizando interpretações tributárias dela.
Quando o ferramental marxista não dá conta de uma questão,
quando dados questionam ou refutam a tese geral, a questão e os dados
simplesmente desaparecem. E é por isso que muitos autores são desconhecidos no
Brasil.
Nada pode romper a harmoniosa narrativa maniqueísta. Assim,
a velha luta do bem contra o mal ganha novas roupagens: o país explorador e o
explorado, o patrão e o trabalhador, o rico e o pobre, o agronegócio e a
agricultura familiar.
Nessa narrativa, o produtor rural é apresentado
fundamentalmente como um latifundiário que explora os trabalhadores - em alguns
casos em regime de escravidão - e que produz alimentos para exportação deixando
o povo passar fome.
O pequeno agricultor, chamado de campesino quando visto com
bons olhos, é apenas uma vítima em potencial, dizem, pois logo venderá sua
propriedade para o cultivo da monocultura.
Com a causa ambiental absorvida pelo marxismo cultural, o
inimigo do presente também inviabiliza o futuro. O agricultor é a versão rural
da elite urbana.
Essa imagem não aparece de modo claro, direto, mas emerge do
emaranhado de afirmações, insinuações e lacunas que devem ser preenchidas pelos
alunos.
Se o estudante procurar “MST” no Brasil Escola, um dos mais
famosos sites de conteúdo educacional, ele encontrará o seguinte trecho em um
artigo: “E o que dizer da bancada ruralista no Congresso, lutando com unhas e
dentes para defender seus afilhados? Por acaso este não é um comportamento
antiético e imoral, vindo de que vem?”.
O site Brasil Escola figura entre os 300 mais acessados no
Brasil, de acordo com a Alexa (serviço de medição de acessos).
A absurda frase do Brasil Escola não é exceção. Na coleção
de livros didáticos “Nova História Crítica”, a mais vendida do país - só o MEC
comprou mais de 10 milhões de livros-, o autor Mario Schmidt escreveu o
seguinte: “Desde a colonização, quase todas as terras estão nas mãos de uma
minoria de latifundiários, latifúndio-monocultor e escravista... Os
latifundiários reagem com brutalidade às invasões. Contratam capangas que em
várias ocasiões já perderam o controle e mandaram bala nos sem-terra”.
O geógrafo e professor José William Vesentini escreveu que “a
produtividade agrícola só aumenta nas culturas de exportação, ocasionando fome”.
Tal frase contraria fatos e dados elementares, mas é a síntese do autor de “Brasil
Sociedade e Espaço”, o renomado livro didático de geografia.
Vesentini argumenta que a modernização da agricultura só
ocorre em setores exportadores, o que, a seu ver, diminui a produção dos
principais itens que compõem a alimentação dos brasileiros como feijão, arroz,
milho, batata e mandioca. O autor entende que disso surgiria o seguinte
paradoxo: o Brasil vive abundância produtiva e fome quase generalizada.
Consequência, segundo o autor, da concentração fundiária.
Infelizmente Vesentini e Schmidt retratam, com precisão, um
conjunto de ideias dominante que aparece, inclusive, no Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem), que avalia e direciona os alunas.
Em uma questão do Enem, por exemplo, o estudante deveria
interpretar a “fala” de um “ruralista” imaginado pelo proponente: “A minha
propriedade foi conseguida com muito sacrifício pelos meus antepassados. Não
admito invasão. Essa gente não sabe de nada. Estão sendo manipulados pelos
comunistas. Minha resposta será à bala”. Mais claro impossível.
Eis a mentalidade que está sendo gestada no país, inculcando
preconceito e ignorância nos nossos jovens. E tudo com dinheiro público, dos
contribuintes. É essa a educação que queremos?