Uma pulga passeava, irrequieta, atrás da minha orelha. Dilma
Rousseff ponteia as pesquisas. Mantido o panorama atual, vencerá sem
dificuldade a eleição do ano que vem. Datafolha credita-lhe, nos vários
cenários, o apoio bastante firme de 40% do eleitorado. A tal pulga ia para lá e
para cá, desassossegada: como pode?
Foi um feito de Lula, a primeira eleição da presidente.
Guerrilheira que um dia sonhara tomar o poder pelas armas, Dilma haveria de
receber esse poder - quem diria? - como um regalo de amigo. Coisa tipo -
"Lembrei-me de você!". Em 2010, Lula tomou-a pela mão e saiu a
apresentá-la aos brasileiros. "Muito prazer, Dilma Rousseff", dizia
ela. "Mas pode chamá-la de mãe do PAC", completava ele, pimpão.
Assim, de mão em mão, de grão em grão, as urnas foram enchendo o papo e Dilma
subiu a rampa catapultada pelo voto de 55,7 milhões de brasileiros. Agora,
quando seu governo sacoleja no trecho final, deve estar mandando lavar, passar
e engomar a faixa presidencial para nova entronização.
Contar com quarenta por cento dos 140 milhões de eleitores
brasileiros significa que Dilma inicia a nova campanha com um estoque
equivalente aos votos que obteve no segundo turno de 2010. Pois bem, o que eu
me proponho trazer à apreciação dos leitores é a explicação para esse fenômeno.
Fácil, como se verá. O SUS, sabe-se bem, caminha para a perfeição. Todos são
atendidos a tempo e hora, em condições adequadas. Não há bom médico, no mundo,
que não queira trabalhar aqui. A longa espera nas emergências tem se revelado
um excelente meio de integração social e formação de novas camaradagens. Os
finais de turno não deveriam ser brindados com champanha? A marcação de
consultas especializadas e cirurgias segue cronograma rigoroso. Pontual e
mortal. Doravante, insatisfeitos, procurem Raúl Castro! Aposentados do INSS
providenciam passaportes e trotam mundo afora, efetivando aquele direito que
Lula oposicionista apontava como coisa normal à velhice dos povos civilizados.
A Educação, seja na base, cumprindo papel de promoção social e cultural, seja
no topo, alinhando o Brasil com a elite tecnológica do planeta, opera prodígios
na transformação da nossa realidade. A Economia? É lunática: contabilidade
nova, inflação crescente, PIB minguante, carga tributária cheia... E a
segurança pública enfim promove, como nunca antes neste país, digamos assim, o
encontro dos criminosos com as grades e do povo com a paz social. Corrupção?
Tudo intriga, maledicência, coisa de quem não tem o que falar.
Repare como Dilma esbanja carisma. Não é uma sedutora? Que
discursos! Palavra fácil, empolgante! Ao final de cada locução, os auditórios
se erguem e aplaudem-na em pé, seja em Itapira, seja na ONU. Durante estes anos
como "presidenta", não confirmou ela, plenamente, o que Lula
assegurava a seu respeito? Observem como o governo foi bem gerenciado. Vejam o
rigor com que se cumprem os prazos e se enxugam os gastos. O Brasil tem
programa e cronograma, estratégias, previsões e provisões. Você duvida? Não
prometera a presidente, aqui na terrinha, em 2010, que sua Porto Alegre teria,
enfim, linha de metrô e nova ponte no Guaíba? Pois para desgosto dos
incrédulos, as obras estão aí, novamente prometidíssimas! Basta que o Estado e
o município, nos anos por vir, "casem" os bilhões que faltam. Um
sucesso, o governo Dilma. Agora, se os motivos não se acham bem visíveis acima,
então só resta procurá-los dentro das bolsas.