O intenso fim de semana na política foi um dos temas do
Twitter. Dois candidatos da oposição uniram forças e foram muito comentados,
perdendo apenas para temas como um quadro do Programa Raul Gil (SBT). As
eleições presidenciais estão chegando e cada um, de acordo com suas limitações
de tempo e restrições profissionais, tem a missão de fazer alguma coisa.
Individualmente, tentei fazer o PV e Marina Silva se
entenderem e o partido ser o plano B caso a Rede não conseguisse registro no
TSE, o que considerava altamente provável. Achava que o campo grosseiramente
definido como socioambiental precisava apresentar-se como alternativa. Ele
ainda é muito fraco. Dependia de uma união interna para disputar a simpatia do
conjunto da oposição. Nos meus cálculos, o campo precisaria também rever alguns
de seus dogmas para sair do gueto ecológico. Um é o de se fixar só na defesa de
um Código Florestal abstrato, lutando contra ruralistas, que defendem outra
abstração.
Minha proposta, em primeiro lugar, é introduzir o elemento
científico para definir quanto de uma área deve ser preservado e quantos metros
da margem de um rio serão resguardados para protegê-lo. No caso específico dos
rios, considerava que a discussão em Brasília era muito limitada e deveria
contar com os comitês de bacia, que conhecem o tema e trabalham diariamente com
ele. Isso no caso de comitês de bacia que trabalham e venceram a etapa do faz
de conta.
O mais importante para fortalecer o campo socioambiental
seria reconhecer a importância da alimentação num planeta que brevemente
chegará aos 9 bilhões de habitantes. Posso discorrer muito tempo sobre a
importância política desse tema, mas a Primavera Árabe e revoltas em países
africanos revelam como ele pode desestabilizar governos incapazes,
momentaneamente, de financiar alimentos a preços acessíveis. Dentro dessa visão
planetária, não tem sentido hostilizar o agronegócio, mas sim dialogar com ele
e levá-lo, quando possível, a uma convergência com as propostas de
sustentabilidade.
No meu caso particular, aprendi muito sobre a realidade
agrícola discutindo com ex-ministro Alysson Paulinelli, ou sobre a produção de
carne ouvindo o também ex-ministro Pratini de Moraes. Não tenho medo de ser
chamado de velho conciliador, desde que acrescentem o adjetivo curioso. Colocar
o tema dos alimentos numa projeção ecológica não só aumenta a credibilidade da
proposta, como indica pé no chão, contato com a dura realidade cotidiana.
Meus esforços para reaproximar Marina e o PV foram em vão e
as razões do fracasso não cabem numa análise política. Talvez num outro
suporte, um romance psicológico, conseguisse explicar o que aconteceu. Os dois
lados estavam irredutíveis.
Por baixo desse esforço havia outra divergência: a
necessidade de um plano B. A realidade tem desmentido minha análise de que o
plano B é tão importante quanto uma capa de chuva em Bruxelas. A insistência em
não tê-lo significa confiar em certos resultados que podem falhar. Não me
parece oportunista um candidato a presidente que tenha planos B. Em caso de
vitória, terá de se acostumar com eles.
Com os rumos da oposição já traçados, mais a escolha de
reduzir candidaturas, e não ampliar o leque, como pedia minha análise, só me
resta agora tentar contribuir de outra maneira, dentro de minhas limitações.
Uma forma de contribuir com uma alternativa para o Brasil foi ler 1.200 páginas
dos debates da chamada esquerda democrática e produzir uma síntese para a
Fundação Astrojildo Pereira, do PPS.
Quando os atores são tão imprevisíveis, é importante
concentrar-se no roteiro. Apesar do apelo eleitoral, não basta condenar o PT e
conseguir com isso um vínculo de simpatia em escala nacional. É preciso dizer
como seria o Brasil pós-PT. De que forma impulsionar o crescimento econômico,
como estabelecer políticas institucionais mais respeitosas, como se situar no
mundo sem arroubos bolivarianos - há muitas coisas que precisam ser definidas
com clareza.
O senso comum nos garante que acompanhando e participando da
política podemos transformá-la. Mas o universo político brasileiro move-se com
tanta independência e autonomia que parece uma galáxia distante. O balcão de
negócios está instalado com toda a franqueza. Deputados vendem emendas, votos
e, agora, o próprio mandato aos partidos em competição por bancadas numerosas.
O governo do PT contempla isso tudo com a maior
tranquilidade porque acha que, no fundo, a desagregação vai ajudá-lo a
permanecer no poder, sua obsessão. Não importa se seu reino se transformou num
pântano, o importante é sentar na cadeira presidencial, distribuir cargos,
verbas, enfim, o combustível que move essa sórdida engrenagem. Os marqueteiros
ensinam o caminho do coração popular. Basta reservar para a propaganda uma boa
parte dos recursos.
Espionado freneticamente pelos americanos, salvo pelos
médicos cubanos e marchando triunfalmente para o topo da economia mundial,
apesar do pessimismo dos próprios economistas, o PT vai construindo sua
fantástica narrativa. Tudo pode acontecer num país imprevisível, onde os
presidentes nem se preocupam mais em fazer sentido. As respostas desconexas de
Dilma são apenas a continuidade hesitante da sólida ignorância de Lula, que
sonhava com uma Terra quadrada para atenuar a poluição e com um mundo mais
justo onde as mães não nascessem analfabetas. Tudo isso com penteado produzido
por um cabeleireiro japonês, que deve prestar também seus serviços à Coreia do
Norte, a julgar pelo estilo de Kim Jong-un.
Parece ironia, mas se a oposição deixar também de fazer
sentido, seja por uma tardia descoberta dos encantos da literatura ou pela
recusa a analisar friamente os problemas nacionais, aí, então, estaremos
perdidos. Só nos restará escolher entre o bom humor dos comediantes e o mau
humor dos manifestantes, mas até neste caso um tipo de síntese conciliatória é desejável.
Um bom exercício seria completar a frase: Brasil, um país de todos...