As eleições para presidente não serão “normais” - apenas uma
disputa entre dois partidos para ver quem fica com o poder. Não. Trata-se de
uma batalha entre democratas e não democratas. Está na hora de abrirmos os
olhos, porque está em curso o desejo de Dilma e seu partido de tomar o governo
para mudar o Estado. Não tenho mais saco para tentar análises políticas sobre a
“não política”. Não aguento mais tentar ser “sensato” sobre a insensatez. Por
isso, só me resta fazer a lista do que considero as doenças infantis do petismo,
cuja permanência no poder pode arrasar a sociedade brasileira de forma
irreversível.
O petismo tem a compulsão à repetição do que houve em 1963;
querem refazer o tempo do Jango, quando não conseguiram levá-lo para uma
revolução imaginária, infactível. Os petistas querem a democracia do Comitê
Central, o centralismo democrático, o eufemismo que Lênin inventou para
controlar Estado e sociedade. Eles não confiam na “sociedade”; só pensam no
Estado, na interferência em tudo, no comportamento dos bancos, nos analistas de
mercado e principalmente no velho sonho de limitar a liberdade de opinião.
Assinam embaixo da frase de Stálin: “As ideias são muito mais poderosas do que
as armas. Nós não permitimos que nossos inimigos tenham armas, por que
deveríamos permitir que tenham ideias?”. Nossa maior doença - o Estado
canceroso - será ignorada e terá uma recaída talvez fatal. Não fazem
autocrítica e não querem ser criticados. A teimosia de Dilma é total - vai
continuar errando com galhardia brizolista. Sua ideologia é falha, mal
assimilada nessa correria sindicalista e pelega. Até agora governaram um país
capitalista com regras e métodos anticapitalistas - dá no desastre econômico a
que assistimos. Eles odeiam a competência. Acham que administrar é coisa de
burguês - vejam o estrago atual. Acham que planejam a História, que “fazem” a
História. Por isso, adotaram a mui útil “mentira revolucionária”. Assim, podem
ocultar tudo da sociedade para o “bem dela”. Aliaram-se ao que há de pior entre
os reacionários brasileiros e vivem a volúpia de imitá-los, com um adorável
frisson perverso ao cometerem malfeitos para “fins justos”. Aliás nem sabem o
que são seus “fins”; têm uma vaga ideia de “projeto” que não passa de um
sarapatel de “gramscianismo” vulgar com getulismo tardio e um
desenvolvimentismo dos anos 1960. Foi assim que criaram a “roubalheira de
esquerda”, que chamam de “desapropriação” de dinheiro da burguesia. Isso
justificou o mensalão, feito para eleger Dirceu presidente em 2010.
Fracassaram. Aliás, o PT abriga muitos fracassados porque, ao se dizerem “revolucionários”
sentem-se superiores a nós, os alienados, os neoliberais, os direitistas, os
vendidos ao imperialismo.
Não entendem o mundo atual e continuam com os pressupostos
de uma política dos anos 1930 na URSS. Leiam os livros do período e constatem
se um Gilberto Carvalho não pensa igualzinho ao Molotov. Para eles, a oposição
é a união da “burguesia” contra o “povo”. No entanto, quem se aliou à pior
burguesia patrimonialista foram eles; ou Sarney, Renan, Jucá, Maluf e Severino
do macarrão são bolcheviques? Petistas só pensam no passado como vítimas ou no
futuro como salvadores e heróis. O presente é ignorado, pois eles não têm
reflexão crítica para entendê-lo. Adoram estar num partido que pensa por eles.
Dá um alívio não ter de pensar - só obedecer. A mediocridade sonha com o futuro
onipotente. A morte súbita de Eduardo Campos pirou os “hegelianozinhos de
pacotilha” que descobriram que a História é intempestiva e não obedece ao Rui
Falcão. Agora, rumam em massa para Pernambuco para elogiar quem chamavam de “traidor
e menino mimado”.
Querem criar os tais “conselhos” sociais, para adiar os
problemas, fingindo uma “humildade democrática” para “ouvir” a população, de
modo a ocultar seu autoritarismo renitente. Vivem a ideia de um futuro
socialista como o substituto do sonho de “imortalidade” dos cristãos. Comunista
não morre; vira um conceito. O homem é um ser social, e o “ser social” nunca
morre. Para eles (e para o Kim da Coreia do Norte), o indivíduo é uma ilusão
que criou essa dor melodramática. Quem morre é pequeno-burguês. Muitos
intelectuais e artistas que sabem dessas doenças infantis preferem cavalgar o
erro a mudar de ideia. Consola a consciência ter uma estrelinha vermelha
pendurada na alma.
Os petistas têm uma visão de mundo deturpada por conceitos
compartimentados e acusatórios: luta de classes, vitimização, culpados e
inocentes, traidores e traídos. Acham que a complexidade é um complô contra
eles, acham a circularidade inevitável da vida uma armação do neoliberalismo
internacional. Confundem simplicidade com simplismo. Nunca fazem parte do erro
do mundo; sentem-se superiores a nós, tocados pelo dedo de Deus.
Agora, no mundo modificado pelo fim do socialismo real,
pelos impasses do Oriente Médio, pela crise financeira do capitalismo, pela
revolução digital, sentem falta de uma ideologia que os justifique e absolva. E
como não existe nenhuma disponível (social-democracia, nem pensar...), apelam
para o tosco bolivarianismo que nos contamina aos poucos. É inacreditável como
batem cabeça para ditadores e criminosos, de Ahmadinejad a Maduro, de Putin a
Fidel, tudo em volta do fascismo populista de Chávez.
Dilma se acha Brizola, Lula imita Getúlio: nacionalismo,
manipulação da liberdade, ódio a estrangeiros, desconfiança dos desejos da
sociedade. Nada pior do que o brizolismo-getulista neste momento do país.
Estávamos prontos para decolar no mundo contemporâneo, mas seguraram o avião e
voltamos para trás.
Por isso, repito a frase oportuna de Baudrillard:
“O comunismo, hoje desintegrado, tornou-se viral, capaz de
contaminar o mundo inteiro; não através da ideologia, nem do seu modelo de
funcionamento, mas através do seu modelo de desfuncionamento e da
desestruturação da vida social”.
Este é o perigo.