Dos deputados federais com menos de 30 anos, 79% são
herdeiros (filhos ou netos) de clãs regionais e estão na disputa eleitoral para
perpetuar o poder familiar
Eles somam 52 entre 81 senadores, e 228 dos 513 deputados
federais. Juntos, representam 280 votos no plenário do Congresso Nacional.
Constituem prova viva da força das relações de sangue na política brasileira.
O predomínio é claro: um de cada dois parlamentares federais
eleitos em 2010 tem pais, filhos, irmãos, avôs, tios, primos, sobrinhos,
cônjuges, genros, noras ou cunhados em cargos eletivos do Executivo ou dos
Legislativos federal, estaduais e municipais.
Na prática, significa que o controle do Estado brasileiro
depende do voto majoritário de um “clube” composto por pouco mais de duas
centenas de famílias.
Uma das características desse condomínio é a perpetuação no
poder. Exemplo: dos deputados federais eleitos há quatro anos, quando estavam
com menos de 30 anos de idade, nada menos que 79% eram herdeiros (filhos ou
netos) de clãs políticos regionais - quase todos estão nas ruas à caça de votos
para a eleição de outubro.
“Entra e sai governo, os oligarcas e seus filhos, netos,
cônjuges, irmãos e sobrinhos seguem dando as cartas", constata Lauren
Schoenster, pesquisadora da Transparência, que acaba de mapear o poder dos clãs
regionais. Um dos efeitos da perpetuação, ela acha, é a formação de uma base
parlamentar avessa a mudanças significativas no país.
Sangue é capital político relevante nas urnas. Isso não é
produto típico nacional - como demonstraram os Kennedy e seguem mostrando os
Bush nos Estados Unidos. Mas o caso brasileiro ganha relevo pela dimensão
alcançada na atual temporada eleitoral.
Há dois herdeiros entre os três mais destacados candidatos à
Presidência. Aécio Neves (PSDB), com 54 anos, e Eduardo Campos (PSB), com 49,
desde o berço aprenderam a cultivar a ambição pelo poder (para conhecê-los,
assim como a sua adversária Dilma Rousseff, há um ótimo livro na rede, “Os
candidatos", de Maria Cristina Fernandes).
O familismo se espraia pelos estados, onde o repórter Pedro
Marcondes de Moura identificou 24 candidatos a governador oriundos de clãs com
tradição na política local.
Há casos como o da Paraíba, com 93% da bancada parlamentar
federal produzidos em meia dúzia de famílias, lembra Lauren Schoenster. No Rio
Grande do Norte, onde 91% dos parlamentares também são herdeiros, há um
candidato a governador, Henrique Eduardo Alves (PMDB), atual presidente da
Câmara dos Deputados, cuja parentela inclui um ex-governador, um senador, o
prefeito da capital, Natal, e o ministro da Previdência Social.
No Acre, a família Viana se reveza há 16 anos e tenta
completar duas décadas no poder, com a reeleição do atual governador. Esse clã
cresceu com o PT, desde a época em que o partido gritava nas ruas contra as oligarquias.
A sedução do poder muda prioridades. O familismo pode e deve ser exaltado “com
muito orgulho”, ensinou Lula a Hélder, filho do seu aliado Jader Barbalho, dias
atrás, ao lançá-lo candidato a governador do Pará.
Dilma Rousseff ficou “indignada” com a espionagem de que
brasileiros como ela foram vítimas recentemente. Aceitou o pedido de desculpas
de Obama e fez as pazes com Washington. Agora, diz-se “indignada” com a
violação dos direitos civis de jornalistas na guerrilha cibernética executada a
partir do palácio que governa. Ao menos por elegância, Dilma deve um pedido de
desculpas às vítimas do seu governo.