Prostituir as palavras, deformar a realidade e mentir. A
estratégia marxista, flagrada nas ações do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto
(MTST) e na violência black bloc, grita nas ruas e avenidas de um Brasil acuado
pela covardia e leniência de seus governantes. E nós, jornalistas, corremos o
risco de sucumbir ao gingado gramsciano e à instrumentalização semântica.
Criminosos que bloqueiam vias públicas, invadem prédios, lançam bombas, matam
um cinegrafista de TV - fatos públicos e clamorosos - vendem a imagem de “ativistas”
e “militantes”. Quando presos, depois de uma enxurrada de ataques ao Estado
Democrático de Direito, assumem o papel de “presos políticos”. E a imprensa,
frequentemente refém de uma pretensa imparcialidade, acaba algemada pela
inconsistência dos clichês ideológicos.
Nosso papel é informar. Nossa missão é rasgar a embalagem da
propaganda e mostrar a realidade. Vamos aos fatos. O relatório final do
inquérito da Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre atos de violência em
manifestações mostra que os black blocs têm uma hierarquia rígida. Há comissões
voltadas para o planejamento de ataques, confecção e distribuição de bombas e
coquetéis molotov. O jornal O Globo teve acesso ao relatório, de 2 mil páginas,
sobre a investigação iniciada em setembro e que inclui o monitoramento de
telefonemas e e-mails. Um dos suspeitos, por exemplo, revoltado por ter sido
condenado a prestar serviços comunitários, diz que mataria um PM ao final da
Copa. De acordo com o documento, uma ação de guerrilha, com uso de bombas de
fragmentação, coquetéis molotov e ouriços (peças feitas com pedaços de
vergalhões, destinadas a ferir PMs e furar pneus), estava sendo articulada para
marcar o final da Copa do Mundo, dia 13/7, no Maracanã.
No inquérito policial sobre os black blocs, Elisa Quadros,
vulgo Sininho, considerada líder do bando, é acusada de incitar seus
companheiros a atear fogo na Câmara Municipal carioca durante protesto no ano
passado. A “militante” também teria determinado ataques a garagens de ônibus
durante a greve de rodoviários em maio. Na ocasião, 500 ônibus foram
depredados. Belo serviço aos trabalhadores pobres da periferia.
A sociedade, atônita e revoltada, não assiste ao sadio
idealismo da juventude que protesta contra a corrupção e a incompetência dos governos,
marca registrada das manifestações de junho de 2013, mas ao recrudescimento de
uma estratégia de tomada de poder que passa, necessariamente, pela destruição
da democracia e pelo assassinato das liberdades. À medida que avançam,
protegidos pela covardia das autoridades, grupos com o perfil do MTST e dos
black blocs vão mostrando sua verdadeira face: arrogância, violência e espírito
totalitário.
O MTST, hiperativo em São Paulo, começa a dizer o que
realmente pretende. Guilherme Boulos, seu líder, em entrevista ao Estado, já
não esconde os objetivos de suas ações. O MTST “não é um movimento de moradia”,
mas “um projeto de acumulação de forças para mudança social”. Resumo da ópera:
a proclamada luta por moradia não existe. É só uma fachada marqueteira. O
objetivo é a revolução, que, por óbvio, passa como um trator por cima da
democracia.
A violência é a ditadura das minorias para encurralar a
sociedade. O vandalismo do MTST e a violência dos mascarados, não obstante seu
discurso pretensamente libertário e confrontador do sistema vigente, são tudo
menos democráticos. Os mascarados não representam os brasileiros indignados que
ocuparam praças e avenidas em junho do ano passado. São água e vinho. No Rio,
grupos de encapuzados queimaram a Bandeira do Brasil, semearam pânico e
destruíram patrimônio público e privado. Em São Paulo, cidade maltratada por
uma administração que transforma o trânsito no inferno cotidiano de todas as
classes sociais, a delinquência do MTST só aumenta o sofrimento com o bloqueio
constante de vias públicas. São, de fato, inimigos dos trabalhadores honrados e
lutadores. Eles não têm a cara do nosso país e da nossa gente.
Cabe ao jornalismo não apenas fazer o registro e o
inventário das ações criminosas. É preciso condená-las com a força da apuração
de qualidade. Muitas perguntas essenciais não foram respondidas. Quem está por
trás dos bandos? Quem financia a logística? Ocupar terrenos, instalar barracas
com a velocidade de uma ocupação militar, transportar companheiros, alimentar a
militância, tudo isso custa muito dinheiro. É preciso esclarecer. Como
salientou recente editorial do Estado, há cada vez mais indícios de que os
militantes vândalos podem estar atuando como uma espécie de “braço armado” de
organizações que se constituíram graças à democracia, mas não têm nenhum apreço
por ela.
Não se pode permitir que o autoritarismo ideológico, apoiado
em milícias armadas e delinquentes, roube as legítimas bandeiras da cidadania.
Os protestos de rua, pacíficos e democráticos, são legítimos e necessários. O
povo, sobretudo a juventude, mais perspicaz do que se pensa, sabe que a
dinheirama da corrupção está na raiz da pobreza dos brasileiros. Verbas
públicas desviadas da saúde, da educação, da agricultura engordam as contas dos
parasitas da República e emagrecem a vida e a esperança do povo. Se o dinheiro
que circula no mercado da corrupção fosse usado para fazer investimentos
públicos, mudaria a cara do Brasil e faria, de fato, a almejada justiça social.
Mas o MTST, os black blocs, Boulos, Sininho e seus
seguidores não estão nem aí para isso. O que lhes interessa é o poder, e não a
democracia.