O racismo, para a esquerda, existe sistemicamente. Ele
existe institucionalmente. Ele existe coletivamente, mas não individualmente.
Há alguns anos, a capa da versão impressa da revista
Newsweek questionou: “Seu Bebê é Racista?” A foto do bebê olhando exposta nas
gôndolas dos supermercados, exposta nos aeroportos para ser vista pelos
passageiros à espera do seu voo e para ser vista pelos pacientes em
consultórios de odontologia têm olhos azuis.
A estigmatização de racistas como sendo brancos veio a se
tornar um estereótipo racial. E não é uma estereotipação acidental.
Nos subterrâneos do apoio da esquerda às políticas de ações
afirmativas existe a crença que o racismo dos brancos é o único tipo de racismo
que existe. O racismo dos negros, eles insistem, é na verdade chamado de
“racismo reverso” e é um mito construído por pessoas brancas.
Não se trata da esquerda acreditar que as políticas
afirmativas não sejam racistas. É que ela acredita que não existe uma coisa
como isso de racismo contra pessoas brancas. É como o Knockout Game (1) ou como
estudantes brancos que se qualificaram por mérito mas não puderam entrar na
universidade por causa das quotas de diversidade racial; trata-se de uma
categoria inválida. Um mito.
E se é um mito, então não há nada de errado com um pouquinho
de violência racial ou algumas preferências raciais.
O nosso sistema não é imune a surtos de loucura pontuais. Uma
porção considerável de Hollywood acredita que suas almas originaram-se em outro
planeta e que eventualmente elas irão ganhar superpoderes. Muitos em Washington
D.C. Acreditam que é possível imprimir dinheiro infinitamente e com benefícios
econômicos infinitos. E, por sua vez, os acadêmicos e organizações sem fins
lucrativos acreditam que o racismo contra pessoas brancas não existe.
A esquerda é delirante, mas não é completamente insana. Ela
não nega que possa ocorrer crimes de ódio por parte de negros. Tampouco ela irá
negar atos ocasionais de discriminação institucional. No entanto, ela reconhece
o racismo apenas como sendo um fenômeno coletivo.
O debate a respeito das políticas de ações afirmativas diz
respeito ao coletivo e ao indivíduo.
“Não é possível acolher a ideia que todos os indivíduos de
uma mesma raça pensam de modo igual como sendo uma proposição séria”, escreveu
o Juiz da Suprema Corte de Justiça Anthony Kennedy na decisão Schuette vs.
BAMN, decisão que permite banir a discriminação das políticas de afirmação
racial em Michigan.
Todavia é exatamente nisso que a esquerda acredita.
O racismo, para a esquerda, existe sistemicamente. Ele
existe institucionalmente. Ele existe coletivamente, mas não individualmente.
Todos os brancos são racistas. Todos os negros são vítimas
do racismo. Qualquer acontecimento que diga o contrário é uma exceção à regra.
O racismo só pode existir numa mão única que vai de uma maioria para uma
minoria.
Qualquer outra coisa é um “racismo inverso” fantasioso.
Conservadores enxergam as pessoas enquanto indivíduos.
Esquerdistas enxergam as pessoas como parte de um sistema. Para um conservador,
o racismo é algo que ocorre entre indivíduos (2). Para um esquerdista, trata-se
de um atributo de um sistema. A tentativa de convencer um esquerdista que o
racismo negro existe ou que as políticas afirmativas são racistas é como tentar
convencê-los de que algumas das células em seus corpos estão tramando algo
contra o corpo.
Eles não enxergam indivíduos, eles enxergam um sistema.
O debate sobre políticas afirmativas é, na verdade, um
debate sobre se nós visualizamos as pessoas como indivíduos ou como células, um
debate sobre se estudantes brancos e negros que desejam ser tratados como
indivíduos irão prevalecer ou se a esquerda totalitária continuará ganhando
espaço e poder com a sua insistência em encará-los como bolinhas de diferentes
cores num sistema simplório.
Da mesma forma na política, conservadores aproximam-se de
pessoas que concordam com sua visão política, a despeito da raça, construindo
assim grupos menos diversos, mas grupos que são intelectualmente mais robustos,
ao passo que esquerdistas formam coalizões raciais. Esquerdistas acusam os
conservadores de racismo, pois estes são vistos, não como uma coalizão de
indivíduos, mas como um coletivo racial, tal como eles mesmos [os esquerdistas]
são.
Os ajustes raciais (3) na América ainda não começaram a
ocorrer em um nível coletivo. Nós [indivíduos] não somos reajustados como um
sistema. Nós mudamos individualmente.
É isto que a esquerda, com a sua obsessão por sistemas, não
é capaz de ver e não é capaz de lidar. A Grande Sociedade falhou miseravelmente
porque nós, todos juntos, já éramos uma grande sociedade (4). Nós não formamos
uma bela sociedade por sermos perfeitos, mas porque nós estivemos nos
esforçando constantemente para melhorar enquanto indivíduos.
E é essa característica que as políticas afirmativas e o
coletivismo esquerdista fazem solapar.
Sistemas não rejeitam o racismo. Indivíduos, sim.
É essa verdade fundamental que a obsessão da revista
Newsweek com o racismo de bebês recém-nascidos e com o privilégio dos brancos
pretende combater. A mensagem coletiva deles é que os indivíduos são produtos
de um sistema, fantoches da sua biologia, condenados para todo o sempre por
algo como um pecado original racista que impregna cada parte do seu ser e dos
seus estados mentais de tal forma que é possível jamais escapar dessas
influências.
A não ser que o sistema mude.
Esta fora a resposta dos esquerdistas totalitaristas para a
questão das classes. O fracasso dos seus sistemas de gerenciamento da economia
e o sucesso do capitalismo destruiu a credibilidade das suas opiniões sobre
classes. As noções de que a classe trabalhadora, sob empreendimentos privados,
jamais conseguiria escapar da pobreza foi sepultada tão profundamente quanto às
estátuas de Marx e Lênin.
Porém, ao invés de reelaborar o seu paradigma, a esquerda
substituiu classes por raças. A classe trabalhadora pôde ser bem sucedida sob
empreendimentos privados, mas apenas enquanto ela for branca.
Isso ainda permanece errado.
As raças, tal como as classes, não é uma problemática ligada
ao sistema, mas aos indivíduos. Não há uma única solução coletiva, apenas as
soluções que os indivíduos encontraram para si próprios. Nós não somos uma
nação segregada entre pretos e brancos, ou entre os brancos desbotados e o
'povo preto'.
Somos indivíduos. E somos assim desde sempre.
As políticas de ações afirmativas negam que a raça é uma
experiência individual. Elas negam que raça não é a soma de indivíduos. Elas
negam o sofrimento daqueles que se enredaram nos meandros do sistema por serem
membros da “raça errada”.
Elas negam o indivíduo. Elas negam a sua identidade, o seu
valor e as suas ações. Elas põem o sistema acima do indivíduo e retiram os
direitos de todas as pessoas, de todas as raças, gênero e de diferentes
identidades.
A esquerda é obcecada com a 'brancura' do sistema. A sua
obsessão não é apenas racista, mas ela substitui um sistema aberto no qual as
pessoas podem mudar e estão mudando...por um sistema estanque no qual não é
possível mudar. Este aspecto totalitário desse sistema veio sendo escondido sob
a fraude do empoderamento e dos rituais de vitimização que recompensa aqueles
que usam a raça como uma carta coringa à custa daqueles que tentam fazer o seu
melhor.
O que irá determinar o resultado do debate sobre as
políticas afirmativas e os debates mais amplos sobre raça e classes é se nós o
abordaremos como indivíduos ou como partes de um sistema. Os Americanos [nos
EUA] resistem em ser tratados como partes intercambiáveis de um sistema, porém
as narrativas individuais que a esquerda tão efetivamente usa são um disfarce
para fazer uma abordagem sistêmica e apresentar soluções sistêmicas.
A esquerda tem respondido ao racismo institucionalizado
usando racismo institucionalizado até ao ponto de tornar-se uma instituição
mais racista do que aquela contra a qual ela lutava. Instituições não combatem
o racismo, elas criam o racismo. O argumento mais convincente contra as
políticas raciais coletivistas da esquerda sempre foi o indivíduo.
Organizações e coletivos podem criar o ódio, mas apenas
indivíduos podem substituí-los com o amor.
Notas:
(1) “Knockout game”, literalmente, “jogo do nocaute” - um
“jogo” criminoso praticado por jovens negros nos Estados Unidos. O grupo faz
uma aposta se um dos membros conseguirá nocautear com um único soco uma pessoa
aleatoriamente escolhida na rua (mulheres e velhos também são escolhidos).
Exemplo #1. Exemplo #2. Segundo relatos, a mídia cobre essa prática sem abordar
o aspecto racial, acobertando o ódio de negros contra brancos. Uma assimetria,
dado que violência de brancos contra negros via de regra é tratada como racismo
(Exemplo: caso George Zimmerman que em legítima defesa assassinou Trayvon
Martin).
(2) N. Do T.: o mesmo aplica-se ao ódio e preconceito contra
gays (“homofobia”), à posturas que degradam a mulher, etc.
(3) O autor utiliza a expressão “racial healing” que de
maneira mais direta poderia ser traduzida como “cura racial” ou “cicatrização
racial”.
(4) “Great Society” contraposto a “great society” escrito
com minúsculas. “Great Society” foi um programa de iniciativas políticas e
sociais do Presidente Lyndon Johnson.